O que é um casamento?
Podemos caminhar por diversas compreensões daquilo que vem a ser um casamento. Vou me ater mais ao sentido afetivo do que ao sentido jurídico ou social ou religioso do termo.
É possível compreendermos o casamento como um movimento de união que as pessoas estabelecem frente a alguns propósitos de vida. Entretanto, esses propósitos podem ser compreendidos por perspectivas de curto, médio ou longo prazo.
Por exemplo, os casais podem se unir devido a um estado de atração física (curto prazo), devido a projetos específico tais como viagens, cursos ou atividades profissionais que tenham em comum (médio prazo), ou ainda, devido a propósitos de longo prazo tais como a formação de uma família, ter filhos, formação de uma patrimônio ou de um legado de vida.
É importante ter clareza quanto aos propósitos que unem o casal, para que não formem expectativas que não poderão ser concretizadas. Este é um ponto que pode gerar divergência entre os casais, visto que não é um assunto que transita com liberdade nas relações. As pessoas tendem a não falar com clareza suas intenções e vontades, imaginando que isso pode entristecer o companheiro(a) ou mesmo ser um elemento que desencadeie o término da relação.
Além do propósitos de uma relação, os casais também se unem a partir de certos valores de vida. Dentre os mais comuns, destacam-se o Amor, a Parceria, a Amizade e o Respeito. Podemos chamar estes valores de universais. Quando os casais são questionados sobre esses valores, na gigantesca maioria das vezes eles concordam que são valores essenciais para um convívio feliz e harmonioso. Entretanto, o entendimento de cada um desses valores geralmente diverge quando os casais têm que se posicionar diante de situações cotidianas da vida.
Amor, Parceria, Amizade, Respeito
Sobre o amor, podemos entender tanto um estado emocional, como também um composto de atitudes que dão liberdade para o(a) parceiro(a) ser e agir. O amor não bloqueia, não aprisiona, não limita o outro. O amor permite, o amor acolhe, o amor impulsiona. É uma sensação de querer bem a outra pessoa, é torcer para o seu sucesso e sua alegria.
No amor, temos a parceria. Esta permite que se caminhe junto, que se possa contar com o outro nos momentos bons e ruins. A parceria implica em compromisso mútuo e consentido. É uma escolha de ambos para estar um ao lado do outro na caminhada da vida.
E nessa caminhada, a amizade entra como elo de troca de afetos. Nela, a relação se vê cheia de experiências marcantes, onde o que impera é o aprendizado e a soma de forças para uma mesma direção. Na amizade, ambos sabem que mesmo que fiquem tempos sem se ver, estão conectados um com o outro. Cada um sabe da importância que tem para o outro.
Já, o respeito é o fluido que permite com que as engrenagens da relação fluam adequadamente. No respeito, as palavras escolhidas por cada um em uma conversa amaciam e acolhem os atos e os pensamentos que eventualmente se frustram. Quando um se chateia com o outro, aquilo que se fala à medida em que se tem o respeito, é dito com suavidade e empatia. E é diante desse clima de respeito que podem existir com maior clareza espaços seguros para que transitem as individualidade com seus desejos e peculiaridades.
Os desejos individuais
Cada um é um. Ninguém é igual ao outro em tudo. Com certeza, se ambos têm gostos e afazeres em comum, isso facilita para que os desejos individuais possam ser contemplados ao mesmo tempo. Isso reduz a chance de existirem frustrações.
Entretanto, existem variações de gostos e de vontades. As pessoas querem vivenciar coisas diferentes que podem não combinar com aquilo que o outro quer. É um ponto que requer escuta e ao mesmo tempo posicionamento. Aqui tanto é importante escutar e acolher o que o outro traz como também é importante se fazer ouvir naquilo que quer e deseja. O tempo conjunto do casal precisa respeitar o tempo individual de ambos.
Os encantos e desencantos
À medida em que o tempo passa e o convívio se estabelece, evidenciam-se as “falhas” e as imperfeições de cada um. A rotina, necessária a todos, pode se tornar uma grande vilã para o casal. Nela, repousam o cansaço e o tédio do dia a dia, as repetições de comportamento, os mesmos carinhos, os mesmos gestos e as mesmas falas.
Nessa hora podem vir questionamentos do tipo: “Aonde foi que eu me meti?! Já não me reconheço mais nessa relação?!… Cadê o brilho que havia?!…” Estes são sinais do desencanto e da decepção. Um grande desafio para o casal é manter em algum nível o encantamento, ou seja, a capacidade de admirar o outro, de perceber a beleza que habita seus atos e pensamentos. São pequenos momentos de descoberta, onde o casal se reinventa e passa descobrir novas coisas entre si.
O que ainda sobra numa relação de longo prazo
E, à medida em que o casal se reinventa, devem atentar-se o ponto mais nuclear de uma relação. É justamente aqui que os casais acabam não dando tanta atenção no tempo presente e deixado essa questão para o futuro, para que seja resolvida lá na frente. É uma questão que requer autoconhecimento, maturidade emocional e ciência das suas próprias escolhas.
Quando o casal consegue definir um propósito a longo prazo, tal como um “por que” e um “para que”, aí sim, há a possibilidade de se alinharem desejos, vontades, amor, parceria, amizade e respeito. Quando definem um propósito na relação, eles têm novamente o brilho nos olhos, o encantamento um com o outro. A admiração recíproca se manifesta de modo intenso.
Para se estabelecer um propósito, ambos precisam colocar as cartas na mesa. A conversa sobre o que se quer deve ser plena em abertura, sinceridade e sentimento. Ambos devem conversar abertamente sobre o que querem, sobre o que imaginam, sobre seus medos e inseguranças. E ao mesmo tempo, devem buscar o acolhimento de tudo o que escutam um do outro, para que aí sim, a partir disso, consigam extrair dali um propósito comum de vida, legitimado pela própria sinceridade.
Diante de tudo isso, vale a pena parar para se perguntar: “por que casar?” Antes de tomar uma decisão como essa, avalie com seu parceiro ou parceira os pontos discutidos aqui neste texto. Busque um entendimento comum, sem receio de divergir. Lembre-se: Quando não falamos, alimentamos nossos medos.