Logo que cheguei, ele já estava lá. Subimos pelo elevador. Abri a sala. Sentamos. Ele começou:
– “Já não sei mais o que fazer com a minha esposa… Ela fica o tempo todo no celular. Não para de digitar… Quando eu tento conversar, ela nem me responde… Ela continua lá… curtindo, comentando, compartilhando…”
– “Faz tempo que isso ocorre?”
– “Desde que nós nos mudamos, há um ano.”
– “E algo ‘mudou’ com essa mudança?”
– “Sim… Tanto eu quanto ela, estamos sentindo muita falta da família e dos amigos… Ela está matando a saudade pelo face… e eu… estou esperando que ela me dê aquilo que eu perdi…”
As lágrimas foram surgindo. Seu rosto passou da aflição para a tristeza.
– “Acho que eu nunca me dei conta disso… Sempre fui bastante indiferente com minha mãe. Agora que estamos longe, estou me dando conta de tudo o que ela me dava. Hoje, não tem mais cafuné… abraço e nem colo. Não tem mais todo aquele carinho por perto. Agora, eu tenho que me virar sozinho…”
– “E o que sua esposa tem a ver com tudo isso?”
– “Nada… Parece que eu quero que ela fique no lugar da minha mãe.”
– “Parece que há um sentimento aí que ainda não ganhou o devido destino…”
– “Sim. É verdade… Eu nunca disse pra minha mãe o quanto eu realmente a amo”.
Naquela hora, um sorriso apareceu. Nem aflito e nem triste, ele agora estava decidido a compartilhar um certo carinho há tempos perdido pela incompreensão de si mesmo.
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É bom lembrar ou poder entender como funciona uma terapia. A série de textos Histórias de Terapia foi o modo simples e poético que encontrei para retratar esse momento tão sagrado e delicado que é uma sessão terapêutica.