A porta estava aberta. O paciente chegou até a recepção e ali permaneceu. Quase nem o escutei quando sentou na cadeira. Dirigi-me até a porta. O silêncio permaneceu. Fiquei ali, esperando por alguns segundos, até que resolvi falar: “Vamos lá!?”
Ele se levantou e entrou em minha sala. Logo que sentou novamente, falou: “Não tenho nada pra dizer hoje. Estou sem ânimo, sem vontade para nada… Minha vida tem sido assim nos últimos anos… Nada de bom acontece comigo.”
Depois de um tempo novamente em silêncio, questionei: “E se você fosse Deus, no tempo da criação, como seria o seu mundo? Faria diferente do que é hoje?” Seus olhos se levantaram e sua sua voz ganhou mais força: “Se eu fosse Deus, faria tudo diferente. As pessoas seriam mais solidárias, se ajudariam mais, seriam menos indiferentes umas com as outras… Haveria mais alegria por aí… com certeza”.
Logo que percebi essa energia, súbita, não tive dúvidas, questionei-lhe novamente: “Ok… e me diga um outra coisa. Se você continuasse sendo Deus e se seu mundo fosse apenas você mesmo, o que faria de diferente daquilo que é hoje?”
Prontamente, ele me respondeu: “Nada mudaria ao meu redor… tudo ficaria como sempre foi. As pessoas seriam do mesmo jeito.” Questionei mais uma vez: “Mas, e você? Seria diferente?… Seria possível, pelo menos, você se imaginar sendo o Criador da sua própria história?”.
Naquele dia, algo mudou. Um sorriso surgiu e um novo olhar de esperança me olhou.
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É bom lembrar ou poder entender como funciona uma terapia. A série de textos Histórias de Terapia foi o modo simples e poético que encontrei para retratar esse momento tão sagrado e delicado que é uma sessão terapêutica.