“Eu abro mão do meu sonho de ter filhos por você.”
Essa frase, dita em nome do amor, pode parecer o auge da entrega em um relacionamento. Um sacrifício nobre, a prova máxima de que o amor de vocês é mais importante que qualquer outra coisa.
Mas o tempo é implacável. E ele cobra um preço por sonhos engavetados.
E o preço de engavetar um desejo existencial tão profundo como o de ter filhos pode ser alto demais. Isso não é um problema passageiro. Isso é “um dilema para a vida”.
O Sonho Que Não Desaparece
A verdade é que um sonho dessa magnitude não desaparece. Ele não morre. Ele apenas fica adormecido, esperando.
Com o passar dos anos, o que era um ato de amor pode, lentamente, se transformar em:
1. Um Ressentimento Silencioso
Aquele sacrifício começa a pesar. Cada festa de criança, cada post de um amigo com seu bebê, cada Dia das Mães ou dos Pais pode se tornar um gatilho doloroso. O ressentimento cresce em silêncio, envenenando a admiração e o carinho que existiam.
2. Um Vazio Que Nada Preenche
A pessoa que abriu mão do sonho pode começar a sentir um vazio que nenhuma outra conquista – profissional, financeira ou pessoal – consegue preencher. É a sensação de que uma parte vital de si mesma foi deixada para trás.
3. A Porta Para a Depressão e a Angústia
Essa renúncia pode abrir portas para a depressão, para uma angústia constante e para uma dolorosa perda de sentido existencial. A pessoa olha para a própria vida e não se reconhece mais. A alegria se esvai.
4. O Fardo da Culpa para o Outro
E o parceiro(a), por quem o sacrifício foi feito? Ele(a) pode começar a carregar um fardo de culpa insuportável. Cada sinal de tristeza do outro é um lembrete daquele sacrifício. O amor começa a ser ofuscado pela culpa e pela sensação de que ele(a) destruiu o sonho de quem mais ama.
No final, os dois perdem. O relacionamento, construído sobre um sacrifício tão grande, começa a ruir sob o peso dele.
Amor Não é Anulação
É crucial entender um princípio fundamental: o amor não deveria exigir que você apague quem você é.
O amor verdadeiro apoia, incentiva, encontra caminhos. Ele não pede que você arranque uma parte essencial da sua alma para que ele possa existir.
Ponderar sobre as consequências dessa decisão não é falta de amor. Pelo contrário, é um ato de imensa responsabilidade com a sua saúde mental, com a saúde mental do seu parceiro e com o futuro do próprio relacionamento.
É proteger o amor de vocês de uma ferida que talvez nunca cicatrize.
Sinais de Alerta: O Dilema Já Está Presente?
- O assunto “filhos” é um tabu que vocês evitam a todo custo?
- Um de vocês já disse “eu abro mão por você”, mas o assunto continua voltando em discussões?
- Existe um sentimento de tristeza ou ressentimento quando amigos ou familiares anunciam uma gravidez?
- Um de vocês sente que está “atrasando” a vida do outro?
- Há uma sensação de que o futuro de vocês como casal é incerto ou incompleto?
Se você marcou mais de uma opção, este dilema já faz parte da sua história e precisa ser encarado com coragem.
O Que Fazer?
Ignorar o problema não fará ele desaparecer. A única saída é através da conversa honesta e, muitas vezes, com apoio profissional.
- Tenham uma Conversa Corajosa: Expressem seus medos, desejos e tristezas sem acusações. O que significa “ter filhos” para um? O que significa “não ter filhos” para o outro?
- Explorem Todas as Possibilidades: Existem caminhos alternativos? Adoção? Outras formas de exercer a parentalidade? É uma decisão definitiva ou pode ser revista no futuro?
- Não Tomem Decisões Sob Pressão: Não permita que a pressão da idade ou da família dite uma decisão tão importante.
- Busquem Ajuda Profissional: Este é um dos dilemas mais complexos que um casal pode enfrentar. Um terapeuta pode oferecer um espaço seguro e neutro para que vocês explorem esse tema sem que ele destrua o relacionamento.
Não deixe que o maior ato de amor de vocês se torne a maior ferida.
Se esse dilema faz parte da sua história, é hora de encará-lo com a seriedade e a coragem que ele exige. Pelo bem de cada um de vocês e pelo futuro do amor que os uniu.
Este dilema está pesando sobre seu relacionamento? Não esperem até que o ressentimento e a culpa se tornem grandes demais. Como terapeuta, posso ajudá-los a explorar essa questão de forma segura e construtiva, buscando o melhor caminho para o casal e para a saúde mental de ambos.
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